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Audiência Pública debate a questão dos animais resgatados: políticas públicas permanentes é o desafio colocado pelas enchentes

A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa gaúcha realizou audiência pública para tratar dos animais resgatados durante as enchentes, proposta pela deputada Luciana Genro (PSOL). Estiveram presentes o Ministério Público Estadual, protetores, protetoras, ONGs da causa animal e representantes do governo estadual e federal. As prefeituras de Canoas e Porto Alegre, as duas cidades no topo do ranking de animais abrigados, foram convidadas para a audiência, mas não compareceram.


Voluntários e protetores de diversos abrigos relataram as dificuldades pelas quais têm passado, citando desamparo por parte dos governos, exaustão física e mental e falta de verbas para suprir a demanda. “O que aconteceu com a enchente foi trazer à tona um problema que não tem mais como esconder debaixo do tapete, que é a crise referente aos animais abandonados”, disse Lúcia Luz, defensora da causa.



Audiência pública sobre animais resgatados.


“Esse trabalho de cuidado com os animais abandonados não pode ficar só nas costas dos voluntários, isso é uma desumanidade também com as pessoas, que acabam muitas vezes com suas vidas desestruturadas. É preciso políticas públicas permanentes, lutar por isso é a nossa tarefa”, destacou Luciana Genro.


A promotora de Justiça Annelise Steigleder se emocionou ao falar sobre a situação dos protetores no Estado: “eu vejo as voluntárias do Centro Vida, que é um abrigo com o qual eu mantenho bastante contato, elas estão realmente numa situação de muita dificuldade com a escassez de voluntários. Agora começaram a aparecer também os custos relacionados à manutenção desses espaços, com contas de luz e água que estão chegando”, destacou.


Marco Torres, do abrigo Mathias Velho, em Canoas, que chegou a atender cerca de 4 mil cães, ressaltou a preocupação com a questão das zoonoses, já que diversos animais resgatados chegam doentes. A cinomose, a leishmaniose e a parvovirose têm se espalhado entre os cães dentro dos abrigos. Além da questão da leptospirose, cujos casos não estão sendo contabilizados nem controlados pelo governo.


A diretora do departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente, Vanessa Negrini, ressaltou a questão da falta de ação dos governos municipais, que não têm solicitado os recursos disponibilizados pelo governo federal. “Se todos os municípios afetados tivessem solicitado esses recursos, o montante disponibilizado para causa animal no Estado seria de mais de R$ 22 milhões. Para vocês terem uma ideia do tamanho desse recurso, seria suficiente para castrar 80 mil animais”, pontuou a diretora.


A deputada Luciana Genro reforçou que é necessário chegar a um equilíbrio entre a participação da sociedade civil e das ONGs e a intervenção dos governos, Ederson Barreto, do GRAD, expôs as propostas apresentadas pelo grupo para o governo como alternativa à adoção financeiramente incentivada proposta pelo governador Eduardo Leite e rechaçada por ONGs e voluntários.


Luciana Genro propôs audiência sobre animais resgatados.


“Eu não vou descansar enquanto não conseguir criar políticas públicas permanentes para os animais no Rio Grande do Sul”, finalizou Luciana Genro. A parlamentar tem sido parte ativa da luta dos protetores, protetoras e ONGs de animais, o que se acentuou desde que o problema das enchentes começou, tendo inclusive participado da organização do abrigo de animais na Escola Santos Dumont.


Dentre as propostas apresentadas pelos representantes do Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD), estão o processo de adoção: triagem, entrevista, assinatura de termo e pós-adoção com orientação sobre custos e responsabilidades. Além de um guia para adotantes com padrões de bem-estar, acompanhamento pós-adoção via app e visitas presenciais, doação de animais castrados ou com garantia de castração, vacinação contra doenças infectocontagiosas, controle de endo e ectoparasitas. Também propuseram a microchipagem e cadastro de todos os animais, o atendimento veterinário em hospitais universitários e clínicas credenciadas por um ano e a execução do projeto de adoção com coordenação de uma ONG ou parceria técnica.


A audiência encerrou com diversos encaminhamentos, entre eles a participação de um representante da Assembleia Legislativa na reunião do governo estadual que deve acontecer na próxima semana. Também irá se buscar chegar a um acordo para que as ONGs façam parte da estruturação da proposta do governo em relação aos animais, já que são elas que já conhecem a rotina e o que é necessário para o bem estar desses animais.

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